domingo, 16 de maio de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER - III

"Os homens que perseguem uma multidão de mulheres podem facilmente ser divididos em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres seu próprio sonho, sua ideia subjetiva de mulher. Outros são movidos pelo desejo de se apoderar da infinita diversidade do mundo feminino objetivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão romântica: o que procuram nas mulheres é a si próprios, é ao ideal deles, e ficam sempre e continuamente decepcionados, porque, como sabemos, o ideal é o que é impossível encontrar. Como a decepção que os leva de mulher em mulher dá à sua inconstância uma espécie de desculpa melodramática, muitas mulheres sentimentais acham comovente essa poligamia obstinada.
A outra obsessão é uma obsessão libertina, e as mulheres não veem nisso nada de comovente: como o homem não projeta nas mulheres um ideal subjetivo, tudo lhe interessa e nada pode decepcioná-lo. E precisamente essa inaptidão para a decepção tem algo de escandoloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do fornicador libertino não pode ser perdoada (porque não é resgatada pela decepção).
Como o fornicador romântico persegue sempre o mesmo tipo de mulher, nem notamos que muda de amantes; seus amigos estão sempre cometendo gafes, pois não percebem a diferença entre suas companheiras e chamam todas pelo mesmo nome."

Milan Kundera

Um comentário:

Gustavo Fraga disse...

Ainda bem que já encontrei minha mulher ideal......