quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinícius de Moraes

Um comentário:

Gustavo Fraga disse...

Oi linda, tudo bem?
Lindo blog o seu..... vou passar por aqui sempre que possível..... e pra não dizer que não deixei nada interessante, aqui vai um Fenando Pessoa:
"Pouco me importa.
Pouco me importa o quê?
Não sei.
Pouco me importa."

Beijos

Gustavo Fraga