domingo, 30 de novembro de 2008

Eros e Psiquê


Conta a lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.


Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.


A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.


Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.


Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.


E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,


E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.


Fernando Pessoa


A História de Eros e Psiquê


“Psiquê (palavra grega que significa tanto alma, como borboleta) era uma jovem tão bela que de todas as partes acorria gente para admirá-la. Passou mesmo a ser objeto de culto, sobrepondo-se a Vênus (também conhecida como Afrodite, a deusa da beleza e do amor), cujos templos se esvaziaram. A deusa indignou-se com o fato de uma simples mortal receber tantas honras. Pediu a seu filho Eros (Cupido, no panteão romano) , o deus do Amor, que atingisse a jovem com suas flechas, fazendo-a enamorar-se do homem mais desprezível do mundo. Entretanto, ao ver a princesa, o próprio Eros apaixonou-se e, contrariando as ordens da mãe, não lançou suas setas. Enquanto as irmãs de Psiquê casaram-se com reis, a jovem mortal, cobiçada por um deus, permaneceu só. Apreensivo, seu pai consultou o oráculo de Apolo. Este aconselhou o soberano a levar a filha, vestida em trajes nupciais, até o alto de uma colina. Lá, uma serpente iria tomá-la como esposa. As ordens divinas foram executadas e, enquanto a jovem esperava que se consumasse seu destino, surgiu Zéfiro (na mitologia grega, é o vento do Oeste). O doce vento transportou-a até uma planície florida, às margens de um regato. Esgotada por tantas emoções, Psiquê dormiu. Quando acordou, estava no jardim de um palácio de ouro e mármore. Ouviu, então uma voz que a convidava a entrar. À noite, oculto pela escuridão, Eros amou-a. Recomendou-lhe, insistentemente, que jamais tentasse vê-lo. Durante algum tempo, apesar de não conhecer o amado, Psiquê sentia-se a mais feliz das mulheres. Saudosa de suas irmãs, pediu ao marido para vê-las. Zéfiro encarregou-se de levá-las ao palácio. Invejosas da riqueza e felicidade de Psiquê, as jovens insinuaram a dúvida em seu coração. Declararam que o homem que ela desconhecia devia ser o monstro previsto pelo oráculo. Aconselharam-na, então, a preparar uma lâmpada e uma faca afiada: com a primeira, veria o rosto do marido; com a segunda, poderia matá-lo, se fosse mesmo o monstro. À noite, enquanto Eros dormia, Psiquê apanhou a lâmpada e iluminou-lhe o rosto. Viu, então, o mais belo jovem que já existira. Emocionada com a descoberta, deixou cair uma gota do óleo da lâmpada no ombro do deus. Este despertou sobressaltado e foi embora, para não mais voltar. Afastando-se, disse-lhe em tom de censura: “O amor não pode viver sem confiança”. Cheia de dor, a jovem pôs-se a errar pelo mundo, implorando o auxílio das divindades. Entretanto, como não quisessem desagradar a Vênus, nenhuma delas a acolheu. Psiquê resolveu dirigir-se à própria Vênus. A deusa encerrou-a em seu palácio e impôs-lhe os mais rudes e humilhantes trabalhos: separar grãos misturados; cortar a lã de carneiros selvagens; buscar um frasco com a água negra do rio Estige. Na primeira tarefa, Psiquê foi ajudada pelas formigas. Na segunda, os caniços da beira de um regato sugeriram-lhe que recolhesse os fios de lã deixados pelos carneiros nos arbustos espinhosos. E, na terceira, uma águia tirou-lhe o frasco da mão, voou até a nascente do Estinge e trouxe-lhe o líquido negro. Finalmente, Vênus incumbiu-a de ir aos Infernos para obter um pouco da beleza de Prosérpina. Uma torre descreveu-lhe o itinerário para o reino das sombras. Orientou-a também para pagar o óbolo ao barqueiro Caronte e abrandar a ferocidade do cão Cérbero, oferecendo-lhe um bolo. Bem sucedida na prova, Psiquê voltava com a caixa contendo a beleza, quando resolveu abri-la. Imediatamente foi tomada de um profundo sono. Eros, que a procurava, acordou-a, picando-a com a ponta de uma flecha. Em seguida, o deus do amor dirigiu-se ao Olimpo e pediu a Júpiter para esposar a mortal. Foi atendido, mas antes, era preciso que Psiquê recebesse o privilégio da imortalidade. O próprio Júpiter ofereceu ambrosia à jovem, tornando-a imortal. O casamento celebrou-se solenemente entre os deuses. Da união de Eros e Psiquê nasceu aVolúpia.”
Dicionário de Mitologia Greco-Romana

3 comentários:

Unknown disse...

como sempre, Camilinha, esse poema e a pura verdade da procura. estamos sempre procurando sem saber que o ser amado está em si próprio, o que podemos fazer e escolher um ser para nos acampanhar durante nossa vida, pois a cara-metade que muitos procuram em vão, está em nosso coração-mente. Mais um bom companhia ajuda. tenha uma ótima semana. um grande beijo no coração. Cleiton

Unknown disse...

Como diz o poeta, nós estamos sempre procurando nossa cara-metade sem saber que nossa procura é em vão. somos nós mesmos que procuramos e ainda assim continuamos procurando. pode ajudar um bom companhia como um parceiro, nada mais que isso. tenha um boa semana. um grande beijo no coração. cleiton

Anônimo disse...

ó navegando por aqui, aproveitando prá deixar um beijo e uma abraço!