I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
Hilda Hilst
Um comentário:
Nossa. Eu, como típica ariana que sou, me identifiquei demais com esse texto.
A ariana que sente mais prazer na conquista, no desejo a distântica, no amor ausente, do que na conjugação propiriamente dita.
Aquela que espera por aquele que não vem, e que no fundo nem quer que venha, que se alimenta disso, e disso se lamenta.
Postar um comentário