domingo, 28 de outubro de 2012

Balada de amor perfeito


Pelo pés das goiabeiras, 
pelo braços das mangueiras, 
pelas ervas fratricidas, 
pelas pimentas ardidas, 
fui me aflorando.

Pelos girassóis que comem 
giestas de sol e somem, 
por marias-sem-vergonha, 
dos entretons de quem sonha 
fui te aspirando.

Por surpresas balsaminas, 
entre as ferrugens de Minas, 
por tantas voltas lunárias, 
tantas manhãs cineárias, 
fui te esperando.

Por miosótis lacustres, 
por teus cântaros ilustres, 
pelos súbitos espantos 
de teus olhos agapantos, 
fui te encontrando.

Pelas estampas arcanas 
do amor das flores humanas, 
pelas legendas candentes 
que trazemos nas sementes, 
fui te avivando.

Me evadindo das molduras, 
de minhas albas escuras, 
pelas tuas sensitivas, 
açucenas, sempre-vivas, 
fui te virando.

Pela rosa e o resedá, 
pelo trevo que não há, 
pela torta linha reta 
da cravina do poeta, 
fui te levando.

Pelas frestas das lianas 
de tuas crespas pestanas, 
pela trança rebelada 
sobre o paredão do nada, 
fui te enredando.

Pelas braçadas de malvas, 
pelas assembléias alvas 
de teus dentes comovidos 
pelo caule dos gemidos 
fui te enflorando.

Pelas fímbrias de teu húmus, 
pelos reclames dos sumos, 
sobre as umbelas pequenas 
de tuas tensas verbenas, 
fui me plantando.

Por tuas arestas góticas, 
pelas orquídeas eróticas, 
por tuas hastes ossudas, 
pelas ânforas carnudas, 
fui te escalando.

Por teus pistilos eretos, 
por teus acúleos secretos, 
pelas úsneas clandestinas 
das virilhas de boninas, 
fui me criando.

Pelos favores mordentes 
das ogivas redolentes, 
pelo sereno das zínias, 
pelos lábios de glicínias, 
fui te sugando.

Pelas tardes de perfil, 
pelos pasmados de abril, 
pelos parques do que somos, 
com seus bruscos cinamomos, 
fui me espaçando.

Pelas violas do fim, 
nas esquinas do jasmim, 
pela chama dos encantos 
de fugazes amarantos, 
fui me apagando.

Afetando ares e mares 
pelas mimosas vulgares 
pelos fungos do meu mal, 
do teu reino vegetal 
fui me afastando.

Pelas gloxínias vivazes, 
com seus labelos vorazes, 
pelo flor que desata, 
pela lélia purpurata, 
fui me arrastando.

Pelas papoulas da cama, 
que vão fumando quem ama, 
pelas dúvidas rasteiras 
de volúveis trepadeiras 
fui te deixando.

Pelas brenhas, pelas damas 
de uma noite, pelos dramas 
das raízes retorcidas, 
pelas sultanas cuspidas, 
fui te olvidando.

Pelas atonalidades 
das perpétuas, das saudades, 
pelos goivos do meu peito, 
pela luz do amor perfeito, 
vou te buscando.

Paulo Mendes Campos