domingo, 23 de maio de 2010

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na
boca.
- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

domingo, 16 de maio de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER - III

"Os homens que perseguem uma multidão de mulheres podem facilmente ser divididos em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres seu próprio sonho, sua ideia subjetiva de mulher. Outros são movidos pelo desejo de se apoderar da infinita diversidade do mundo feminino objetivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão romântica: o que procuram nas mulheres é a si próprios, é ao ideal deles, e ficam sempre e continuamente decepcionados, porque, como sabemos, o ideal é o que é impossível encontrar. Como a decepção que os leva de mulher em mulher dá à sua inconstância uma espécie de desculpa melodramática, muitas mulheres sentimentais acham comovente essa poligamia obstinada.
A outra obsessão é uma obsessão libertina, e as mulheres não veem nisso nada de comovente: como o homem não projeta nas mulheres um ideal subjetivo, tudo lhe interessa e nada pode decepcioná-lo. E precisamente essa inaptidão para a decepção tem algo de escandoloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do fornicador libertino não pode ser perdoada (porque não é resgatada pela decepção).
Como o fornicador romântico persegue sempre o mesmo tipo de mulher, nem notamos que muda de amantes; seus amigos estão sempre cometendo gafes, pois não percebem a diferença entre suas companheiras e chamam todas pelo mesmo nome."

Milan Kundera

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER - II

"O que é a sedução? Pode-se dizer que é um comportamento que deve sugerir que a aproximação sexual é possível, sem que essa eventualidade possa ser entendida como uma certeza. Em outras palavras, a sedução é uma promessa de coito, mas uma promessa sem garantia."

Milan Kundera